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HERDEIRA OU SUCESSORA?


 

Segundo dados do SEBRAE, 90% das empresas brasileiras são familiares, ou seja, aquelas que são administradas pelos pais, filhos, tios, primos, ou já houve uma sucessão na titularidade da empresa e a chegada dos herdeiros teria o condão de transformar a empresa em familiar. As propriedades rurais, sendo elas pequenas, médias ou grandes, quando trabalhadas por famílias são consideradas empresas familiares.

 

As pesquisas sobre empresas familiares apresentam elementos de natureza empresarial, incluindo planejamento estratégico, planejamento da sucessão e governança e de outro lado elementos de natureza familiar, com aspectos vinculados à dinâmica social, emocionais, simbólicas e as relações familiares.

 

Nem todo herdeiro será sucessor e nem todo sucessor será escolhido entre os herdeiros! Esse fato se deve ao fato da diferença principal entre herdeiro e sucessor, pois o herdeiro está relacionado ao patrimônio, estabelecido em lei e o sucessor está relacionado à gestão do negócio rural.

 

Quero contar uma história: uma família rural do Rio Grande do Sul, composta por João, Maria, Carlos e Joana. João é o patriarca responsável pela plantação de soja na fazenda que herdou de sua família. Maria, também provém de uma família de agricultores, mas ao se casar com João, renunciou a sua herança em favor do irmão, recebendo apenas um enxoval como símbolo de sua entrada na nova família, isso lá em meados de 1970.

 

O casal teve dois filhos, Carlos e Joana. Desde pequeno, Carlos acompanhou o pai nas atividades da fazenda, adquirindo conhecimentos sobre cooperativas, bancos e as nuances do mercado agrícola. Essa proximidade com o trabalho rural despertou em Carlos o interesse pela agronomia, levando-o a seguir os passos do pai e dar continuidade ao legado familiar.

 

Enquanto isso, Maria dedicava-se às atividades domésticas e ao cuidado das funcionárias responsáveis pelas tarefas da casa. Ela também assumia a criação dos filhos, garantindo que recebessem educação, roupas adequadas e cumprissem suas obrigações. Joana, observando a falta de autonomia da mãe diante das decisões do pai, decidiu trilhar um caminho diferente. Ao escolher sua profissão, optou por estudar odontologia na cidade, buscando evitar a repetição da trajetória de sua mãe.

 

Essa história pode ser familiar para muitas pessoas, pois no Brasil, apenas 19% das propriedades rurais são gerenciadas por mulheres, totalizando cerca de 947 mil mulheres na gestão dessas propriedades. A maioria delas encontra-se na faixa etária de 45 a 54 anos, o que indica uma migração seletiva das mulheres para áreas urbanas. Esse movimento pode ser atribuído, em parte, à falta de autonomia e reconhecimento que as mulheres enfrentam no meio rural.

 


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Embora a legislação atual garanta o mesmo direito sucessório para homens e mulheres, ainda persiste uma mentalidade enraizada de que as mulheres não devem assumir a gestão das propriedades rurais. Essa cultura de preterir as mulheres na sucessão precisa ser superada, pois a participação feminina é essencial para diminuir conflitos e fundamental para o desenvolvimento do agronegócio.

 

O planejamento sucessório no meio rural desempenha um papel crucial na garantia da continuidade das propriedades e empresas familiares. Além de organizar o patrimônio, é importante também estruturar as relações familiares, permitindo que os filhos compartilhem a visão do futuro e assegurando a continuidade da empresa familiar rural.

 

O agronegócio é responsável por uma parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, sendo que no ano de 2022 participou com 24,8%. É fundamental que haja indivíduos capacitados à frente das fazendas, garantindo a profissionalização da atividade e o sucesso do negócio familiar rural.

 

É necessário abandonar a crença de que falar sobre herança atrai "mau agouro". Pelo contrário, é preciso encarar a sucessão como uma forma de garantir o sucesso do negócio familiar rural e transmiti-lo às próximas gerações. É fundamental comunicar em família as decisões e planos de sucessão, evitando conflitos futuros. O sucesso do negócio não pode compensar o fracasso da família

 

A preparação dos herdeiros é essencial para garantir a continuidade do negócio. Desde a infância, é importante envolvê-los nas atividades da fazenda, criando um sentimento de pertencimento e admiração pela atividade. É necessário preparar os herdeiros, independentemente do gênero, e escolher o sucessor com base em sua capacidade e vontade de continuar na atividade.

 

O planejamento sucessório é essencial para garantir a continuidade das propriedades e empresas familiares rurais. É necessário envolver os herdeiros desde cedo nas atividades da fazenda, preparando-os para assumir a responsabilidade no futuro. A escolha do sucessor deve ser baseada em sua capacidade e vontade de continuar na atividade, independentemente do gênero.

 

Herdeira ou sucessora? A chave para essa questão está no “ou”, devemos ter mulheres herdeiras E sucessoras, pois quando as mulheres têm as mesmas oportunidades de estarem presentes e serem reconhecidas nas propriedades, recebendo o preparo necessário para se tornarem sucessoras, chegaremos à equidade de gênero necessária, podendo aumentar o percentual de mulheres gestoras de negócios familiares rurais e trazer novos olhares para uma gestão de forma sadia.

 

 
 
 

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