Mulheres na gestão das propriedades rurais na região central do Rio Grande do Sul
- patriciaiserhardt
- 30 de nov. de 2023
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Segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE e MAPA, as mulheres se encontram em desvantagem a parcela masculina, quando se refere a autonomia do processo de gestão e produção de propriedades rurais (WEBER, 2021).

Os dados constataram que são 947 mil mulheres à frente da gestão de propriedades rurais, porém este número representa somente 19% das propriedades rurais do país (IBGE, 2017). No Rio Grande do Sul, de um total de 365.052 estabelecimentos, apenas 43.893 são comandados por mulheres, o equivalente a 12,02%.
O que os dados acima refletem é uma construção histórica do rural brasileiro em que as mulheres, comparativamente aos homens, são minoritárias no momento de decisão sobre quem da família fica na gestão da propriedade.
O processo de sucessão geracional, aquele em que os filhos ficam no lugar dos pais para tocar os negócios agropecuários, fica marcado pela diferença entre homens e mulheres nos motivos que levam a tomada de decisão para continuidade no meio rural, pois a mulher se encontra em patamar de desvantagem nas atribuições a elas destinadas e então optam por migrar para o urbano e, assim, obter sua independência profissional e financeira (CARNEIRO, 2001).
Geralmente a filha só se torna gestora do negócio quando o pai falece e for única filha, pois quando há outros filhos homens, a filha mulher costuma migrar para a cidade e ceder a gerência do negócio para os irmãos. Embora a noção de herdeiro seja baseada na necessidade de laços de sangue, as regras culturais não reconhecem os mesmos direitos para todos os filhos.
Como resultado deste processo é o maior desejo das filhas do que filhos em deixar o meio rural ocorrendo a migração é seletiva pelas mulheres (SPANEVELLO, 2008). No entanto, as mudanças atuais no cenário rural como a ampliação da tecnificação, do acesso a internet, as mudanças nas estruturas familiares, a presença das atividades não agrícolas e a inclusão de mulheres em políticas agrícolas de crédito e de assistência técnica podem alterar cenários como estes e aumentar o percentual de mulheres a frente dos estabelecimentos agropecuários.
Neste texto, faço uma análise com recorte geográfico nos municípios pertencentes a região do Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDE) localizado do centro do Rio Grande do Sul. Os Coredes são microrregiões composta por um determinado número de munícipios com características sociais e econômicas semelhantes e foram criados no Rio Grande do Sul ainda em 1994, com o objetivo de facilitar a promoção de políticas e ações que visam o desenvolvimento regional.
No total, o estado possui 28 Coredes. O Corede analisado é composta por 19 municípios da região central do estado do Rio Grande do Sul, perfazendo o total de em área de 1.045.227 hectares, sendo eles: Agudo, Dilermando de Aguiar, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Formigueiro, Itaara, Ivorá, Jari, Júlio de Castilhos, Nova Palma, Pinhal Grande, Quevedos, Santa Maria, São João do Polêsine, São Martinho da Serra, São Pedro do Sul, Silveira Martins e Toropi.
Os dados coletados dizem respeito a condição das mulheres na gestão dos estabelecimentos agropecuários deste Corede salientando: o percentual de mulheres gestoras no Corede como um todo, a gestão das mulheres em comparação com os homens dentro de cada município, a comparação entre mulheres por cada etária e a ocupação feminina no trabalho rural, conforme dados disponibilizados no Censo Agropecuário de 2017.
O Corede Central é formado por 19 municípios, com área total em hectares de 1.045.227ha, sendo 14.225 estabelecimentos rurais, 12.734 homens como gestores, no percentual de 87,22% e 1.850 mulheres gestoras, totalizando o percentual de 12,78% de estabelecimentos geridos por mulheres.
O total de estabelecimentos rurais na região é de 14.625, sendo o maior número de estabelecimentos na cidade de Agudo, onde 90,49% dos estabelecimentos rurais é gerido por homens e 9,51% é gerido por mulheres e o menor na cidade de Itaara, onde 81,25% dos estabelecimentos é gerido por homens e 18,75% por mulheres.
Destes estabelecimentos, o público que está à frente das propriedades rurais, na condição de gestor(a) está formado massivamente por homens, totalizando 12.734 estabelecimentos geridos por homens e 1.850 por mulheres. Na região a média para homens a frente da gestão dos estabelecimentos rurais é de 87,22% para 12,78% de mulheres à frente dos estabelecimentos.
Analisando a situação por idade, observa-se existir menos mulheres jovens no campo do que mais velhas, faixa etária entre 45 e 75 anos, este fato, segundo Brumer (2004) pode estar relacionado a diminuição do número de filhos por família, o que gera menor número de crianças no meio rural conjuntamente ao aumento da migração das jovens para as cidades.
Com relação a ocupação dos estabelecimentos por gestoras e empregadas, podemos verificar a mesma distinção de sexo por estabelecimentos, pois 64,61% são formados por homens, enquanto somente 35,52% é formado por mulheres.
Este texto procurou mostrar a realidade da condição social das mulheres gestoras das propriedades rurais no Corede Centro do Rio Grande do Sul, através da análise de dados secundários do IBGE, Censo Agropecuário de 2017, o que foi possível e se constatou que as mulheres estão em menor número frente à gestão das propriedades rurais, refletindo situação semelhante ao Brasil e ao estado do Rio Grande do Sul.
Além disso, é notável a maior presença de mulheres mais velhas comparativamente as jovens. Este retrato do Corede Central gaúcho, mostra que, apesar das mudanças culturais que aconteceram nos últimos anos e o cenário socioeconômico contemporâneo ser marcado por diversas transformações culturais, com posicionamento feminino perante a realidade, as mulheres continuam sendo minoria no processo de transmissão da gerência e da propriedade rural.
Referências
BRUMER, A. Gênero e agricultura; a situação da mulher na agricultura no Rio Grande do Sul. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 205-227, 2004. CARNEIRO, M. J. Herança e gênero entre agricultores familiares. Rev. Estud. Fem. Florianopolis, v. 9, n. 1, pp. 22-55, 2001.
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. disponível em: . Acesso em: 25 jan. 2022. MAPA- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: . Acesso em: 02.02.2022.
MENICUCCI, E. As políticas públicas para as mulheres e o desenvolvimento sustentável em debate. Brasil. Presidência da República. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Edição Especial da Revista do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. 1ª Impressão. Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2012. pá..15 A 21.
SPANEVELLO, R. M. A dinâmica sucessória na agricultura familiar. 2008. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Rural)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008. WEBER, C. Sucessão geracional em propriedades rurais de associados a cooperativas agropecuárias: uma abordagem sobre jovens mulheres. 2020. Dissertação (mestrado em agronegócios) -Universidade Federal de Santa Maria, Palmeira das Missões, 2020.
*Texto escrito sob orientação da professora Rosani Marisa Spanevello e com análise de dados pela bolsista Letícia Maiara Schuh
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